segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ENTREVISTA CURTA COM THOMAS BLUM



Com apenas 20 anos de idade, natural de São Mateus de Sul - PR, ele é um verdadeiro soco no estômago da mediocridade! Seus filmes são arrasadores, não deixam pedra sobre pedra. Um artista com fortes referências e inserido no seu tempo! Vamos conhecer um pouco sobre Thomas Blum!



CM – Como foi que você se interessou pelo cinema?

TB - Bom, eu sempre vi filmes desque tinha uns 3 anos sei lá.. quem sabe antes hehe... Porem eu começei a me interessar pelo cinema de verdade, pela arte, pelo poder de um filme, por essa magia já na adolescência, vendo muitos filmes, deixando um pouco de lado os clichês de ação ou suspense e descobrindo o vasto mundo dos trash, dos dramas e de filmes que nem se encaixam em padrões ou categorias. Daí mergulhei de vez, assistindo algumas pérolas como Canibal Holocausto, Pink Flamingos, Nosferatu, Gummo, e por aí vai. De fato nunca me prendi em um tipo de filme só, assisto todos que me agradarem e sempre tem algo novo pra se ver.

CM – Fale um pouco do movimento Cinema Livre.

TB - O Manifesto Cinema Livre surgiu da idéia de que o Brasil ainda é muito mal valorizado por seus filmes, lógicamente por trás da camada pop de cine Brasil existe o underground cheio de grandes artistas e diretores fodas. Porem acho que isso deveria ser aberto para todos, durante o tempo que me aprofundei em cinema pela internet fui descobrindo muita gente que assim como eu desejava botar na tela suas idéias e criar algo novo, e já vi trabalhos incríveis. Infelizmente esses trabalhos tem pouco espaço fora de eventos pequenos, a idéia do Manifesto Cinema Livre é criar um espaço virtual e futuramente REAL para que todos os curtas e longas underground tenham sua vez, fazer uma espécie de Youtube do cinema brasileiro, destacando as obras mais interessantes e dando espaço para todo e qualquer interessado participar. O projeto anda parado por que são poucos os que estão interessados e é algo que exige muita dedicação. O plano seguinte seria entrar em contato com donos de cine clubes e exibir pelo menos uma vez por semana algum dos curtas em destaque no Cinema Livre.

CM – fale um pouco dos seus filmes e de seus diretores preferidos.

TB - Em geral começamos a filmar e criar vídeo arte numa época meio gótica hahah, por isso todo aquele clima sombrio, nos primeiros curtas. Mas a gente vai mudando muito. "A Cadeira", por exemplo, tem claras influências do David Lynch, fizemos logo após assistir Eraserhead! E mais adiante os filmes continuam a mudar. Nosso mais recente filme é "A Cura de Adalgiso" que acabou sendo o ultimo de uma trilogia, fechando a história absurda de um assassino ou incompreendido. Atualmente nossas produções estão muito diferentes, tanto no sentido técnico (finalmente uma câmera melhor hahaha) quanto no conteúdo dos filmes. Estamos tentando trabalhar mais com o psicológico e menos sangue. Algo mais profundo e surreal. O problema é que trabalhar com mais tecnologia e dar atenção a pequenos detalhes faz com que os filmes demorem mais para serem feitos, nosso projeto atual, que conta a história de um rapaz que começa a buscar respostas dentro de seus sonhos e acaba descobrindo muito mais do que planejava; está parado atualmente! Mas já tem algumas cenas prontas!
Falar sobre diretores é complicado! Digamos que existem alguns que são especiais pra mim, como David Lynch, esse mudou minha vida literalmente. O modo como ele faz seus filmes é INCRIVEL. Não importa quantas vezes eu veja, sempre é um novo filme, o próprio Lynch já explicou que gosta de imaginar os filmes como quadros, apenas apreciar as pinturas e senti-las, e não ficar achando explicações para tudo. Outro diretor muito importante pra mim é Harmony Korine, um gênio quase terrorista do cinema atual, quando assisti Kids pela primeira vez, fiquei bobo com aquelas cenas, como aquela dos skatistas espancando um patinador e com o som de Daniel Johnston de fundo... aquilo me chocou! Quando descobri que Harmony Korine estava por trás do roteiro busquei os filmes dele e Descobri então Gummo! Despois de Gummo, nunca mais se é o mesmo! Hahahha
Tem ainda Paul Thomas Anderson, genialidade intensa, e com qualidade incrível, Tarantino é foda demais também, Kubrick, lógicamente, se eu for falar de todos não paro mais! ^^

CM – O que você acha que pode melhorar, no panorama do cinema brasileiro?

TB - Olha...O panorama Brasileiro nem é tão ruim, e cada vez estamos vendo mais valorização e qualidade nos filmes populares daqui, porem ainda está muito fechado nesse circuito Rio/São Paulo e raramente outros estados. Existe arte fluindo por todos os cantos do Brasil, é triste saber que tão pouco é utilizado e valorizado e o problema é que isso já desanima muito quem tem interesse. Imagine você nascer em uma cidadezinha do Nordeste ou do Amazonas, onde ninguém nunca nem ouviu falar de Cidade de Deus, mas você sempre gostou daqueles filmes de terror... Fica complicado evoluir nisso... Acho que o mais importante seria um aumento intenso de projetos e festivais por todo o Brasil, mais espaço para o cinema independente e um trabalho mais sério dessas grandes produtoras para selecionar filmes do underground e lança-los para o grande publico.

CM – Como você vê a questão das novas tecnologias no cenário cinematográfico atual?

TB - Sinceramente acho que uma câmera digital não tem a mesma beleza que uma câmera de rolo, mas claro... é a evolução, logo inventarão uma câmera digital que imita a qualidade perfeita de uma câmera antiga, vai existir logo logo... uma SUPER 8 High Tech, hahahah! Também não consigo ainda ver como esses projetos de cinema por celular e tal podem ser bons, já que o celular é muito minimalista e a qualidade é sempre precária, acho muito importante e interessante projetos como o Cinema Possível que preza ensinar e mostrar para todos que se pode fazer cinema sem custo e com qualquer material, nós usamos uma câmera fotográfica aiptek 3200 para fazer todos os curtas até hoje! Só que ainda assim existe uma diferença, pois tem todo o trabalho de editar e tal. Mas quem sou eu pra julgar né heheh. O importante é que seja de qualidade (conteúdo não aparência) e que seja de coração... cinema não sai se não for feito com amor.
Não consigo imaginar o quão longe possa ir a evolução das câmeras filmadoras e da tecnologia cinematográfica. No quesito computação gráfica, acho válida quando a idéia é a fantasia total, mas deixar de usar atores para usar bonecos em um filme humano e com ações humanas... parece-me desnecessário!

CM – Quem é Thomas Blum por Thomas Blum?

TB - Thomas Blum é mutável, é uma metamorfose ambulante hahah, e o cinema que fizermos sempre será uma metamorfose. Atualmente estou dando mais atenção para meu eu, e deixando de lado tanta coisa que as pessoas tendem a se preocupar, tenho feito meditação, yoga, trabalhado em projetos de vídeo arte sem barreiras ou pretensão alguma, moro com minha namorada que aliás é cantora e fotógrafa, arte pra todo lado, hahaha... Com meus 20 anos posso dizer que ainda tenho muito por fazer e tento aproveitar cada minuto como se fosse único, ainda a muito a se corrigir em mim, assim como na humanidade toda! Acho que para uma vida plena devemos evoluir muito e expandir nossa consciência, de nada adianta tecnologia e conforto, quando por dentro ainda estamos incertos e desestruturados. E Por fim, Thomas Blum é alguém que não vive sem a arte. Busca na musica, na literatura, no cinema, na pintura um caminho para se entender e passar algo bom para quem se interessar.

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Veja o o filme “A Cura de Adalgiso” (clique aqui)

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