terça-feira, 9 de junho de 2009

André Sampaio - Rio de Janeiro / RJ

Criador de filmes como "Vida Fuleira" e "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", André Sampaio é uma referência para os cineclubistas de todo o Brasil. Seus filmes sempre muito bem acabados, mostram a mão segura de um artista de primeira. Vamos conhecê-lo melhor, nesta entrevista curta.



Adre Sampaio - Cineasta

CINEMOSQUITO - Como você se interessou por cinema?
André Sampaio - Meu pai é o veterano montador de cinema Severino Dadá, ainda em atividade, montador de mais de 300 filmes entre longas e curtas. A tampa da lixeira da minha casa era uma tampa de lata de negativo Orwo, do leste europeu. Morava em Vila Isabel e gostava de sair com meu pai pra ver cartaz de filme nos extintos cinemas de rua da Tijuca. Ainda por morar em Vila Isabel próximo ao Laboratório Líder hoje Labocine, sempre vi copião de filme e gostava e copião é coisa chata. Tinha um playmobil bombeiro e construia prédios com batoques na moviola quando acompanhava meu pai. Acho que vem disso tudo, da fome com a vontade de comer. E tudo isso bem pequeno.

CM - Um filme sobre Kid Moringueira, estrelado por Jard´s Macalé. Fale um pouco da realização do filme "Tira os Óculos e Recolhe o Homem"?
AS - Esse filme vem da minha amizade com o Jards, desenvolvida nas filmagens do longa coletivo Conceição – Autor Bom é Autor Morto, onde dirigi a figura em cenas de matança e perseguição. Daí, vendo seus shows, saquei que um de seus números era narrar, antes de interpretar a música Tira os Óculos e Recolhe o Homem, única parceria dele com o Moreira da Silva, todo o episódio real que inspira a composição: a sua prisão em 1977 – ditadura militar – quando fazia shows pelo Brasil ao lado do Morengueira. Então pensei, o roteiro tá pronto, é só filmar. Batalhei uns bons cinco anos repetindo o argumento nos editais e um dia colou. Morengueira é um grande argumentista de cinema!



Seveino Dadá, mais de 300 filmes montados


CM - O que você acha que pode melhorar, no panorama do cinema brasileiro?
AS - Esse é um árido tema. Acredito que a coisa realmente comercial, o negócio do cinema não existe. Existe um sistema de dependência, um engenho e não uma indústria. Mas o cara navega na canoa furada com mentalidade de transatlântico e aí a estranheza aprofunda-se e é do grande ao pequeno. Daí são as leis, distribuição dos recursos destas leis, captações e por aí vai, o cara fica esperando o edital e não sai do lugar esperando uma vez que pode não chegar e amargura e a coisa é braba mesmo. E não existe um pensamento da distribuição, todo filme é lançado igual e o fato é que temos muito pra trabalhar e esteticamente esta pseudo competitividade pra tornar o filme supostamente comercial cria produtos que não são nem arte nem invenção nem comércio. Produtos engessados porque em busca de excelências técnicas e daí fica esse ramerame. E por aí vai!

Cena do filme "Tira os Óculos e

Recolhe o Homem" direção de André Sampaio


CM - Como você vê a questão das novas tecnologias no cenário cinematográfico atual?
AS - Este é o nó. E desatar o nó é pensar as novas tecnologias como nova cultura e não meramente como novas ferramentas do antigo ofício. Trata-se de um novo pensamento de produção de distribuição e de exibição. A coisa é outra coisa e quem insistir vai ficar pra trás. Vamos ver que coisa é essa. Eu quero ter minha própria emissora de televisão que coloco no ar da minha casa na serra do cocorocó e quero ganhar dinheiro com isso.


CM - O Curta "Vida Fuleira" funciona como uma homenagem aos artistas de rua e ao cinema mudo, como foi pra você, dirigir este filme?
AS - Esta talvez seja uma experiência única na cena do curta metragem. Fui contratado para dirigir este filme. Um produtor cearense, Ricardo Arruda, me mostrou um roteiro seu (O Artista de Rua e a Balarina), que já tinha mostrado a vários cineastas que haviam recusado a proposta, não gostavam do roteiro, achavam melodramático, cafona, etc. e tao. Eu que não tenho esses pudores e manias de artista, graças a Deus, e penso o cinema de forma muito mais livre e mesmo circense feira experiência e mesmo busca de novas formas de relação de trabalho topei primeiro e depois fui ver o que era. E daí parti pra fuleiragem, pro cinema mudo, arregacei as mangas e trabalhei com toda liberdade. Fui pago pra isso e todos que trabalharam foram pagos. O dinheiro acabou na finalização e o filme ficou muito tempo parado, anos. Terminei o filme com recursos próprios e vagarosamente. Experiências.


CM -Quais são os cineastas e filmes da tua prferência?
AS - Vejo tudo. De Alvim e os Esquilos a Passarinhos e Gaviões pra citar filmes com animais. Tenho essa capacidade. Vou dizer 3 filmes gringos e 3 nacionais, com seus respectivos autores. Filmes que me chaparam para sempre: O Bandido da Luz Vermelha, do Rogério Sganzerla, O Amuleto de Ogum, do Nelson Pereira dos Santos e As Aventuras Amorosas de um Padeiro, do Waldir Onofre; A Marca da Maldade, do Orson Welles; Pick Pocket, do Bresson e outro dia vi e chapei com El Topo do Jodorowski. Não significa tudo mas o que passa pela minha cabeça nesse instante.

CM - Quem é André Sampaio por André Sampaio?
AS -
Um viajante das estrelas reincidente no planeta Terra oprimido pela gravidade.

Veja no youtube o Trailler do filme "Strovengah - Todos os Olhos" (clique aqui)