A cineasta Inez Cabral, empresta ao blog Cine Mosquito, sua maneira direta de falar. Quem teve a honra de ter uma aula de roteiro com ela, aprendeu algo pra toda vida. Mais do que isso, sua atitude é sempre pela franqueza tudo o que ela diz faz a mediocridade passar muito longe! Vamos então, conhece-la nesta entrevista curta.
Com seus alunos, na escola Darcy Ribeiro. A Cineasta Inez Cabral... (Foto de Lidiane Cosmelli).
Cine Mosquito – Como surge o interesse por cinema em sua vida? Foi uma paixão de infância que se perpetuou ou uma escolha profissional da juventude?
Inez Cabral - Essa sempre foi minha paixão maior, desde a primeira vez que fui ao cinema (lembro até hoje, o filme era: "Gigi", com Maurice Chevalier e Leslie Caron.) Mais tarde, veio substituir para mim, o que outros procuram na religião, nas drogas ou até no esporte.
CM – Na tua percepção, existe algum tipo de “cinema” que podemos dizer ser o “melhor do mundo”? Neste caso, qual seria?
IC - O melhor "cinema" do mundo para mim não existe, só distingo entre filme bom e ruim.
CM – Sendo filha do poeta João Cabral de Melo Neto - conhecido como uma das mais importantes vozes da língua portuguesa - existe um paralelo entre a obra dele e o cinema que você faz? Em que pontos a sua obra e a de João Cabral dialogam?
IC - Ai que mania! Até que ponto o que você faz tem a ver com seu pai? Meu diálogo com ele era ao vivo. O que ele me proporcionou? Pelo fato de ser diplomata, intelectual e exigente, ele me deu a base cultural que me permitiu conhecer grandes filmes e diretores incríveis. Quando ele assistiu meu primeiro curta, seu comentário foi: "Dá para ver que você é minha filha, e exerce a linguagem "a contrapelo" ou será "a contra-pelo"? Ai, esses acadêmicos!!!
No estúdio da escola Darcy Ribeiro, Inez Cabral dá uma aula de introdução ao audiovisual!(foto de Lidiane Cosmelli)
CM – O que você gosta de assistir? Quais os filmes e cineastas que te influenciaram?
IC - Gosto de assistir tudo, desde que seja competente. Detesto a famosa frase de Glauber Rocha (que só funcionava com ele) "Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão". Quantos horrores foram cometidos por quem acreditou nisso! (Só prefiro não citar nomes tá? ;))
Quanto a diretores que eu amo, listo alguns: Buñuel, Truffaut, Bergman, Milos Forman, Fassbinder, John Ford, Orson Welles, G. Tornatore, Fellini, Kurosawa, filmes coreanos quase todos (desculpa mas não consigo decorar nome oriental :(, Eisenstein, um ou outro Godard, algo de W. Allen, Q. Tarantino, Robert Rodriguez, Gus Van Saint, Scorcese, Lars Von Trier, e mais um monte deles...
CM – Fale um pouco do seu trabalho como professora/educadora. Como é, lidar com a “doçura” juvenil dos novos alunos que lhe chegam todos os dias, sabendo ser o cinema, uma arte tão complexa e que depende tanto de fatores tecnológicos?
IC - Quanto a meu trabalho de professora, quem pode falar são meus alunos. Adoro o olhar juvenil, a curiosidade, os pontos de vista sem a covardia dos mais velhos. O mais difícil é lidar com a arrogância inerente à juventude (já dizia Oscar Wilde: "Não sou jovem o suficiente para saber tudo").
CM – Como você vê a inserção das novas tecnologias hoje, no aparato Cinematográfico, causando um certo alargamento e uma possível perda de controle das referências do cinema como instinuição?
IC - As novas tecnologias vieram para democratizar o cinema, o "Cinema possível" agora é viável, não é? Mas acho que essas tecnologias vieram trazer outro tipo de problema: antigamente, quantas idéias se perderam pq o criador não soube vencer a resistência ao novo exercida pelos donos da grana. E hoje, com essa democratização (aí está o youtube que não me deixa mentir) quanta gente sem a mínima percepção visual, sem o mínimo conhecimento de nada se sente um grande cineasta, não é?
O que me consola, é que cada dia se filma mais, o que acredito deva propiciar o surgimento de novos talentos. É uma questão de separar o joio do trigo. (chato é a quantidade de joio com relação ao trigo, mas suponho que isso seja normal). Então, o que vem acontecendo é que cada um é seu próprio espectador e seu próprio fã. Acho que com o tempo, as salas de exibição se tornarão obsoletas, ou melhor, só funcionarão para o dito cinemão de milhões e milhões de dólares, enquanto a linguagem audio visual, crecerá em salinhas pequenas, ação entre amigos, essas coisas. Talvez se torne cada vez mais difícil manter-se em dia com a produção mais criativa, mas: Viva a Internet! Apesar de tudo, eu acredito no futuro...
CM – Quem é Inez Cabral por Inez Cabral?
IC - Vim ao mundo para descobrir. Às vezes me sinto como um personagem de Milos Forman, daqueles que adoram dar murro em ponta de faca (tipo Estranho no Ninho, o hippie de Hair, o protagonista de Ragtime).
Veja a Lista de Filmes de Inez Cabral
· Lá vai uma lista, não necessariamente na ordem, e claro, não estão todos:
· Dogville (Lars Von Trier)
· O fantasma da liberdade (Buñuel)
· O anjo exterminador (Idem)
· Amarcord (Fellini)
· Janela indiscreta (Hitchcock)
· Old Boy (ai meu problema com nomes orientais!)
· A casa vazia (idem)
· Lanternas Vermelhas (Zang Yimou... acho que escrevi certo)
· Cidadão Kane (O. Welles)
· A paixão de Joana D'Arc (Dreyer)
· Esses são apenas alguns, na verdade são muitos mais.
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Finalmente surge uma contextação a máxima do Glauber Rocha! Algum planejamente e organização tornam-se necessários que a atividade exercida seja produtiva e nutritiva.
ResponderExcluirexcelente parabéns Jiddu , muito obrigada !
ResponderExcluirCara Inez, estamos precisando de sua entrevista para finalizar o nosso de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Universidade Bandeirante de São Paulo, como tema Obra e Vida Severina - O Poeta da Pedra. Para esta pesquisa será muito importante seu depoimento sobre o poeta e sua obra. A mesma será breve e por telefone. Contamos com sua colaboração para este trabalho.
ResponderExcluirOBS: Enviaremos a perguntas por e-mail
Telefones para contato: (11) 2204-9647 e 9680-1761 falar com Sara Valentim e (11) 9179-3683.
pedrusgabiellacerda@gmail.com e saravallentim@terra.com.br
Agradeço pela atenção, no aguardo do retorno.
Pedro Gabriel Nunes e Sara Valentim