sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Entrevista com Bruno Pereira.


Convidado para dar uma oficina de roteiro para o Curta Cabo Frio 2015, Bruno Pereira, vem marcando a vida cultural cabo-friense, de forma sutil. Ele é dessas pessoas que vai pavimentando a vida e o caminho de alguns jovens, alunos ou não (ele é professor do IFF- Cabo Frio) com suas argumentações e reflexões sobre o fazer artístico e o exercício da paixão pela arte.Bruno Pereira é professor de Literatura e Redação do IFF Cabo Frio, licenciado pela UFF em Letras e mestre pela UENF em Cognição e Linguagem. Dedica-se à teoria e à prática de gêneros textuais, entre eles, o conto e a crônica. Recentemente, passou a dedicar-se às técnicas da escrita do roteiro cinematográfico. É autor do roteiro do curta "Dinheiro Fácil". Prepara-se para produzir o segundo roteiro: "Amores Baldios".

Cine Mosquito - Quero começar esta entrevista, vasculhando um pouco da tua história. Onde e em que momento o cinema encontrou o professor Bruno Pereira?

Bruno Pereira - O cinema me encontrou antes do ofício de professor. Cresci em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. Filho de pais assalariados, cresci à margem do circuito cultural das salas de cinema. Meu pai ganhou uma "tevezinha" bem pequena num bingo de quermece.  Aquela tevê é que foi responsável pela minha educação audiovisual. Foi muita Sessão da Tarde depois da escola. Mais à frente, na adolescência, com o a popularização do vídeo cassete, passei a assistir a filmes selecionados, de gêneros por que me interessava mais. Hoje o cinema está na internet. Mas, antes da tevê, vídeo-cassete e internet, sempre gostei de ver histórias bem contadas. A primeira grande tela de cinema foi a minha cachola mesmo. Lembro-me pequeno ouvir vidrado toda aquela conversa fiada do meu pai, antes mesmo da chegada da tevê em casa. E fazer cinema é isso: contar uma boa história. Mas com vantagens como o registro e a reprodução.

CM - Fale um pouco da tua memória cinematográfica, quais os roteiros, os filmes e o que te assombrou dentro da linguagem do cinema.

BP - Sempre gostei de peripécias narrativas. Histórias que exploram bem reviravoltas e surpresas, mas que façam isso com o mínimo de recursos. Penso que o expectador que não é um mero comedor de pipoca quer ser surpreendido e, ao mesmo tempo, ter a inteligência desafiada. Julgo-me um desses. Gosto também de narrativas paralelas em um filme, e da quebra do fluxo cronológico. Mas nada espetaculoso. A coisa pode ser simples e, ao mesmo tempo, sofisticada. Um filme indigente, mas atraente e perturbador é "Amnésia". Poderia citar filmes consagrados, mas cito esse. É um filme que não se ampara em grandes atores e não conta com grande produção e, ainda assim, explora bem recursos técnicos e narrativos de modo a capturar o expectador. Como narrativa é um verdadeiro cubo mágico para quem assiste.

CM - Você é professor do IFF. Um espaço de alta performance para jovens estudantes técnicos, é daí que vem o padrão de qualidade do teu trabalho?

Penso que é a convergência de vontades que faz isso acontecer lá na escola. Há o fato de ser uma escola federal que, logo, conta com recursos federais. Mas há a questão da convergências de vontades. Quem entra no IFF, seja professor, seja aluno, sente que não pode fazer feio: tem que aproveitar o investimento que é feito na gente para aprender e realizar o possível ali. Sei que nem todos têm a mesma visão. Mas sinto esse sentimento ali. Isso faz a gente querer fazer mais e melhor. Às vezes, funciona e repercute.

CM - Teu roteiro "Dinheiro Fácil", brinca com clichês cinematográficos... Você sente que tua obra vai por este caminho ou você está experimentando de forma mais eclética essa linguagem?

BP - "Dinheiro Fácil" foi um trabalho feito para apresentar a alunos do primeiro ano do ensino médio características do gênero roteiro e da linguagem cinematográfica. Na ocasião, não havia nenhuma expectativa de que o roteiro se tornasse um curta feito por atores e produtores profissionais. Inclusive. a presença de clichês era matéria de aula e serviu para ilustrar aspectos recorrentes no gênero policial  "noir", que tínhamos visto durante o bimestre. Mas flerto com clichês. Vejo-os como ingredientes de uma culinária bem-sucedida, testada e aprovada por paladares há um século de cinema. Só não vale errar a mão e exagerar. Ou valer-se somente disso.

CM - Como é, pra você, dar uma oficina de roteiro no 9º Festival de Cinema Curta Cabo Frio?

BP - É um prazer e um privilégio. Gosto da ideia de haver lugar para falar da produção de textos criativos, roteiro de cinema e linguagem cinematográfica, em Cabo Frio, que é a cidade onde trabalho há quase seis anos. E gosto disso acontecer num festival. Penso que as pessoas estarão ali realmente porque querem, afinal, não tem prova e nem vale nota, diferentemente da escola. Sei que será uma troca formidável.

CM - Qual a diferença entre o cinéfilo Bruno Pereira e o roteirista Bruno Pereira

BP - Diante de uma narrativa, parto-me em dois: duplico-me. Reparto-me em expectador, ou seja, aquele que espera ser surpreendido por um sentimento ou constatação; e em pesquisador: coleto amostras para estudo. Já era assim antes, quando assistia a filmes e escrevia contos e crônicas. Mas, desde que decidi produzir narrativas para cinema, faço isso com mais apuro. Procuro pensar cinematograficamente. Penso em produzir curtas, que são menos complicados e mais rápidos de fazer. Nesse momento, trabalho e prazer se confundem: o prazer dá trabalho e o trabalho dá prazer.

CM- Quem é Bruno Pereira por Bruno Pereira?

BP - Entre um montão de coisas que julgo e pretendo ser, sei que sou um apaixonado por narrativas. Uma boa história ganha o meu coração. Seja uma piada, seja um romance, acredito que o poder das narrativas vem da magia de contar a nossa história ao contar outra história. Ou seja, fala de outra coisa, coisas inventadas, mas fala da gente mesmo. E histórias alimentam e curam. Tanto na sala de aula entre colegas e alunos quanto na rua ou em casa entre amigos e família, sinto-me e sagro-me um contador (e escutador) de histórias. E isso me basta.

Cine Mosquito na Casa Scliar, o novo espaço do Cine Clubismo de Cabo Frio.

O Cine Mosquito virou ponto de encontro de pessoas felizes.
Desde a edição nº 43, o Cine Mosquito vem acontecendo na Casa Scliar. Um espaço de diversão audiovisual que se consagrou desde a fundação da Sala Nelson Pereira dos Santos, trabalho realizado com esmero, pela equipe da casa. Depois de recebermos o convite para sediarmos o Cine Mosquito lá, o evento vem aumentando de  público e já conta com fãs que, todo mês, visitam o mais antigo cine clube de Cabo Frio.
Fundado em 2008, o Cine Mosquito surgiu com o intuito de circular por bairros de Cabo Frio, fazendo suas exibições em bairros e espaços não convencionais. Com o fortalecimento da legenda, o evento passou a circular, também, pela região dos lagos, fazendo algumas exibições em Arraial do Cabo. Devido à crise na PETROBRÁS e completamente sem apoio para continuar funcionando, o Cine Mosquito passou a viajar pelo país, chegando ao Rio Grande do Sul, na cidade de Bento Gonçalves, onde chegou a acontecer duas vezes. Depois foi parar no norte do Brasil, em Macapá, por duas vezes, passando por Brasília.
Apesar de tantas viagens, o evento nunca deixou de acontecer em Cabo Frio, onde era respaldado pela Associação TRIBAL, que sempre ajudava o evento, oferecendo alguma logística para que ele funcionasse na casa das pessoas, principalmente.
O amor pelo Cine Mosquito era tão grande que o poeta Flavio Machado, ofereceu o espaço de igreja onde frequenta, por duas vezes, além de oferecer, também, sua casa. As peripécias do evento foi crescendo e aos poucos se tornando uma lenda na região. Tornando-se famoso, pelo fato de ser um cine-clube que sempre tem, em sua abertura, jogos e brincadeiras ligadas a cinema.
Desde que foi para a Casa Scliar, em novembro de 2014. O evento passou, também, a incluir em sua programação, além das já badaladas brincadeiras de mímica de filme, contação de filmes, poesia e varal artístico, agora, conta com a participação do Curta Teatral, uma cena teatral curta antes do início das cessões audiovisuais. Outro grande atrativo do Cine Mosquito, na Casa Scliar é a exibição sistemática de filmes indígenas. A ideia pegou e já tem jovens que não abrem mão do primeiro filme a ser exibido a cada sessão, ser feito por cineastas aborígenes brasileiros.

Sempre se reinventando, o Cine Mosquito já ultrapassou 50 cessões desde que foi fundado em 2008.