sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Reis do Sagrado – A Sagração dos 13


"Reis do Sagrado" de Lucas Müller, foto de Cesar Remedy a
Não há dúvida que “Os Reis do Sagrado” representa um marco evolutivo no processo de criação do grupo “Os 13”, e traça uma linha de qualidade de suas realizações desde os primeiros filmes. O grupo, que sempre focou a linguagem cinematográfica como técnica, acima de tudo, produz, neste filme, um belo encontro entre arte, técnica e contribuição cultural para sua região. Com isso, “Os 13” se afirma com um documentário que destaca a tradição da Folia de Reis, da região dos lagos, como um evento importante no calendário cultural das cidades, tendo como ponto de encontro, a cidade de Cabo Frio, no interior do estado do Rio de Janeiro.
Um documentário enxuto, com 25 minutos e que traça um painel abrangente tanto do enquadramento da Folia de Reis como arte popular, como afirma Ricardo do Carmo, em seu depoimento muito bem captado, como alguém que esclarece o público ao afirmar tratar-se de uma “teatro de acontecimentos”. Junto com a informação, o filme de Lucas Müller, mergulha suavemente no humano, sem afirmar esse ou aquele discurso, apenas mostra nas expressões dos atores, os dados informativos mas também as contribuições culturais por fora e por dentro da realidade da Folia de Reis.

Prêmio de melhor documentário regional
no III Macaé Cine.
Embora o filme não tenha qualquer pretensão panfletária, presta um serviço relevante ao permitir que a fala dos mestres entrevistados, possa fazer eco à falta de apoio oficial e também à desestrutura cultural causada por discordâncias religiosas que acabam por relegar a cultura popular a último plano.
Como cinema, o filme mantém ótima angulação de câmera, sempre na altura do olho do expectador, tornando-se confortável o tempo todo. A cor está homogênea e o som mantém unidade do começo ao fim. A riqueza da cultura regional explode na tela em cores vivas e boa iluminação. Os cortes, na maioria das vezes, seco, apresentam um ou outro elemento narrativo proposto pelo movimento de câmera e o desfocamento sutil das imagens.
A calma na movimentação e o tempo calculado dos cortes faz a direção de fotografia de Marcelas Rimes e Alexandre Rocha, ganhar grande poder, resultando num trabalho sóbrio e bem apresentado. O saldo final, é que “Reis do Sagrado”, mereceu o prêmio de melhor curta documentário no 7º Festival Curta Cabo Frio, de 2013.
Esta obra audiovisual e deveria estar no currículo das escolas locais. Essa parceria entre educação e arte, mais especificamente, o cinema, pode dar um fôlego a um pensamento mais crítico sobre a ação do cidadão local sobre sua cultura e uma contribuição para ajudar a formar consciência e sentido coletivo nas comunidades onde a Folia de Reis ainda se manifesta.
Jiddu Saldanha - Coordenador do Projeto Cinema Possível.

sábado, 7 de setembro de 2013

Desconstrução, um filme de Renata Prado.

Imagem do set do filme "Desconstrução" de Renata Prado.
Não há dúvida de que a direção de Renata Prado, no filme “Desconstrução” está enxuta e com uma objetividade para poucos. Um curta metragem que consegue transmitir tanta informação, tem exatamente aí sua força mas também sua fraqueza. Talvez desconstrução seja um longa-metragem disfarçado de curta, dito isto, é importante ressaltar a impressionante carga artística do filme, que começa na dinâmica fotografia criada por Paulo Mainhard e desemboca numa profusão de cores, luzes e texturas proposto pela equipe de direção de arte que, não bastasse isso, ainda flerta com um trabalho de xilogravura, da artista plástica Rosa Antunes.
O filme é um panfleto artístico, pretexto para brilhar uma série de personagens da arte de criação, nele você vê Direção de Arte, Maquiagem, Animação Gráfica e por aí vai. É um filme que imprime um execício de referências com toques de surrealismo beirando à ficção científica, recheado de pós-modernidade e ritmo alucinante, mantendo um diálogo direto com o expectador, que, por 10 minutos, não consegue desgrudar da poltrona.
O Filme desconstrução, por incrível que pareça e, apesar de sua pegada-cult, consegue dialogar com o público justamente por ter em sua essência uma série de signos e referências que tocam na identidade universal, principalmente dos jovens. O ritmo de festa rave, a luz quase estroboscópica que muda de acordo com cada take, imprimindo um estranho ambiente onde sujeira, poesia, sadismo, violência e terror, são parceiros numa composição que remete o expectador a uma espécie de “inferno da alma” do personagem central, o artista visual Phil Fargnoli.
O trabalho do elenco, mostra um grupo de atores sem ego, a serviço do roteiro e da parafernália visual, são rostos urbanos, impactantes, mestiços que dão ao filme um riquíssimo tom "terceiromundista", a percepção do roteiro em marcar visualmente um tipo de ator “Artaudiano”, cruel, que comunica no primeiro segundo e depois, apenas administra sua energia para deleite do expectador.
Temos em “Desconstrução” um filme deliciosamente “in - perfeito”, que traz a marca de um timaço de artistas criadores, na elaboração de uma arte radical, a partir de um Storyboard alucinante, buscando acima de tudo, um discurso próprio com uma leitura pessoal do mundo, sem perder contato com o expectador. Da trilha sonora até as sequências, da montagem à direção de arte, do Storyboard à maquiagem, tudo conspirou para um resultado eletrizante. No festival de cinema de Cabo Frio, quem esteve presente, fez ótimos comentários e saudou o filme de forma bem positiva.

VEJA O MAKING OFF: 




Que tal assistir o filme inteiro na sua tela de computador? é só clicar AQUI

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Fascinação - Um filme surpreendente!

Não há dúvida que o filme “Fascinação” é um dos melhores acontecimentos do cinema local, na cidade de Cabo Frio. O filme reúne uma equipe bem afinada e dedicada, que vai desde o elenco até a equipe técnica. Com um roteiro de tirar o fôlego e muito bem planejado, dentro de uma estrutura surpreendente, "Fascinação" conseguiu a proeza de manter o público focado na trama do começo ao fim.
Foi como se a gente tivesse mergulhado  numa lição de como fazer um bom filme de baixo orçamento, sem “choramingar” miséria. O acabamento do filme é simples, e ao mesmo tempo luxuoso, graças à inventividade e imaginação dos diretores que souberam fazer do simples, exatamente aquilo que se espera de um bom filme: apenas prender o expectador na poltrona!
Ao final estávamos extasiados, tendo visto a surpreendente atuação de todo o elenco. Embora os atores de destaque, Wagner Cabral e Mirian Panzer, estivessem muito bem,  os demais participantes do elenco também estavam no tom certo! O filme conseguiu um realismo de ficção incomum no cinema local e isso se deve, em parte, ao trabalho de preparação de elenco, coisa que poucos filmes de baixo orçamento fazem. O trabalho do diretor teatral Ítalo Luiz Moreira, ficou visível através do resultado produzido pela interpretação contida e certeira do elenco.
A edição e a montagem, feita por Whorton Marenga, ficou enxuta, a câmera e a direção de fotografia de Erli Oliveira foi correta sem nenhum tipo de afetação ou “viagem” o que deu ao filme uma simplicidade necessária para que a trama decolasse. Tudo no filme tinha um porque; da trama à vestimenta dos personagens à cenografia, da maquiagem à sonoridade; cada detalhe estava a serviço da história a ser contada. E a missão foi cumprida à risca.
“Fascinação” acrescentou dois fatores que pouco se vê nos filmes locais: Maquiagem, com tonalidades que deram verdade à trama e a riquíssima trilha sonora de Paulo Proezas, composta para o filme, trabalhando cada clima, cada momento, cada pincelada para compor a trama. O filme é um pacote de ações originais, um produto artístico genuíno e tudo feito em Cabo Frio, realmente uma ótima realização desta preciosa equipe!

Uma coisa aprendemos com este filme: Não adianta ter um um super elenco, um puta câmera e uma cabeça extraordinária, se não há empenho de equipe, todo mundo jogando junto no mesmo time. Quando você termina de ver “Fascinação” todas as funções a serviço do filme são “esquecidas” justamente porque todas estavam empenhadas em contar a mesma história, sem egos inflados, isso faz pensar que, para se atingir um objetivo tão grande é preciso ter um misto de humildade, cumplicidade e a capacidade sonhar e conspirar juntos; com todos esses fatores afinados, "Fascinação" foi um verdadeiro gol de placa.