O índio Galdino Jesus dos Santos assassinado num ponto de ônibus em 1997, era uma liderança importante dos índios Pataxós-hã-hã-hães e esteve em Brasília, naquele fatídico dia 19 para participar de manifestações em prol dos índios brasileiros e também por justiça social para todos, sendo assim, era um herói da “resistência” e sua atitude política tinha total legitimidade. No dia seguinte, estampado nos principais jornais do país a notícia de seu assassinato chocou todo o país.
Cinco jovens da classe média de Brasília, um deles menor de idade, jogaram álcool e atearam fogo no corpo de Galdino. Os jovens eram estudantes e ao invés de estarem nas ruas protestando por um Brasil melhor, fizeram a trágica escolha de exercer seu vandalismo, assassinando uma pessoa indefesa de forma brutal e sem qualquer piedade.
O mais doloroso foi saber, alguns anos depois, o tratamento privilegiado dos tais jovens, tanto na prisão, como pelo sistema, que ao invés de puni-lo, num sentido figurado, simplesmente premiaram todos com trágica balança da impunidade. Nunca ficou claro para o Brasil o desdobramento desta história sobre a punição desses jovens. Nós, brasileiros, que lutamos por um Brasil mais justo deixamos aqui nosso recado.
MEMORIAL POÉTICO A GALDINO!
GALDINO
(Luiz Alberto Machado)
Há quinze anos, o menino não era um homem só.
No horizonte do sol, era Galdino, pataxó solidário.
Na madrugada meeira, sem relicário, a brincadeira era um susto ufano, extraordinário, dava sem beiras pra cinco fulanos dali, salafrários pro suplício daqui, sem dó, a besteira de pró no ofício de reduzir nossa vida a pó.
Hoje, o meu diário triste, ainda resiste no quinhão fundiário.
Meu coração é vário, e eu vou como um beija-flor que trissa, insubmisso e real, que alça bem alto, alheio à justiça na Praça do Compromisso, Planalto Central.
(Luiz Alberto Machado)
Galdino, 15 anos sem.
(Jaqueline Serávia)
Perdoa-os País
Perdoa-os autoridades
Vossas excelências da foice macabra, perdoa-os, perdoa-nos
Eles estavam só brincando, são jovens ainda
Divertem-se como podem, brincam
Dizimando índio
Perdoa-os! Pois que seguem seus exemplos
15 anos se passaram que ele foi a Brasília
reivindicar direitos, reivindicamos todos
Mas os bacanas
Jovens
O ceifaram por puro divertimento
Jogaram álcool e atearam fogo
No brinquedo índio que dormia num banco, na rua.
Perdoa-os tolos
Perdoa-os todos
Perdoa os cinco
Que são jovens ainda
Perdoa-os porra nenhuma!!!
Quem são os pais desses cinco?
Por onde andam agora suas juventudes vazias?
Dê o exemplo os que ainda estão aí em cima
Pare a Belo Monte, Dilma!
Ah, falei porra, né? Desculpa.
Somos maus exemplos, somos poetas, somos artistas, somos loucos, somos negros, somos mulheres, somos crianças, somos índios, ... somos também!
Perdoa-nos
Os arroubos, a indigestão, a indignação, as lágrimas, o vômito
Índio não é gente
Gentil são os outros, os estadunidenses
Faremos lutos outros, todos, e eternamente pelo 11 de setembro
Reverências Mr. San
Nossos índios não são gente
São só os primitivos, aborígines, legítimos donos dessa terra-continente.
(Jaqueline Serávia - Rio das Ostras/RJ)
É Pouco para Dizer Tudo
(FlaVcast)
Como não começar por mim
O limitar da fúria que possuo
A ira que infelizmente
... Não vinga
Por alguns
Venda de ódio
Por outros
Copo de pinga
Irracional pós retro medieval
É pouco para dizer tudo...
Mata-se... Por favor...
... Mate-se
Já que és covarde
... Não fuja
Das tuas verdades... Sê
Por nada
Ou por tudo que desejas
Se tu que és o que é
Não fujas em rótulos
Ou arrotos de raiva
... Desarma
Em trocar palavras
Troca decepção
Por uma verdadeira
Ação...
É pouco para dizer tudo...
Cabeça boa
... Passa
Por nos curtirmos
Com erros e virtudes
Para podermos nos olhar
E provar que conseguimos
No espelho nos enxergar
Então nos aceitarmos
O outro buscar respeitar
Mudança é algo melhor
Começa em mim
Em você
Nos nossos
Mínimos atos
É pouco para dizer tudo...
Sabemos
Mas nos atiramos
Irracionais
Dementes imbecis
A buscar a morte
Desordem que nos faz sangrar
Ferido criança
...Peço vingança
Não tenho tolerância
E nem soube por que
Levaram... eu era criança
É pouco para dizer tudo...
Porque no asfalto
Na terra de bacana
Por uma bagana
Vale tudo
De roubar viaduto
Pra ter carro de luxo
Ao luto do filho
Vagabundo
Que mundo imundo é esse
Em que se perde um filho
E na falta de limites mata-se
Onde estará você quando
... Seu filho
Por diversão matar?
É pouco para dizer tudo...
Porque é ruim ver o outro roubar
Mas por quanto...
Você se vende mesmo?
Ou quanto paga em uma roubada
Eu sei tem dinheiro para o ano inteiro
E foda-se
O que vale é manter a pose
É pouco para dizer tudo...
É a merda de uma classe calhorda
Que dita leis que os amamente
Vendidos aos montes
Dependem do verde
Em montante reluzente
Famintos lobos vermelhos
Em peles de cordeiros fedorentos
A distribuir mais e mais pobrezas
É pouco para dizer tudo...
É violência assustada
De uma vida caótica
Embalada e bem posicionada
Em luxuosos carros alvos
De mentes nervosas e trêmulas
Nem sempre mãos experientes
É pouco para dizer tudo...
Como a pedra
Que odiamos...
Mas ofertamos
Em esmolas aos zumbis
Das sarjetas que nos observam
Acuados em nossas jaulas
É pouco para dizer tudo...
Como não começar por mim...
... Ou por você o desarme
Das armas
Os ódios
Da raiva sem sentido
Das frustrações cheias de invejas
A covardia que nos limita
Que nunca mais alguém seja
Queimado vivo à beira de uma calçada
Por idiotas que se imaginam humanos
É pouco para dizer tudo...
Que outros possam dizer também.
FlaVcast – 09.01.2012