quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ricardo Mansur - Entrevista Exclusiva.

Conhecemos Ricardo Mansur, nos bastidores da escola de cinema Darcy Ribeiro, seu entusiasmo e dedicação mostrou-nos uma pessoa focada tanto na arte do cinema como na música. Com ele, é sempre possível um bom papo carregado de referências filosóficas, poéticas e cotidianas. Foi com base nestes encontros breves, que decidimos enviar para ele uma entrevista no melhor estilo Cine Mosquito.

Ricardo Mansur - Em busca de linguagem própria.


Músico instrumentista, compositor, cantor, arranjador e produtor musical. Seu primeiro CD intitulado Terra de Índio foi finalista do prêmio Sharp em 1996 na categoria revelação. Desde então tem se dedicado à produção musical e realizou trabalhos com João de Aquino, Guto Goffi, Paulo Jobim, Osvaldo Montenegro, Arthur Maia entre outros. Foi diretor de áudio e trilhas da TV pública de Angola em 2002. Lançou em 2008 o grupo Mansur Samba Trio. Formado em direção cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro em 2012, lança agora o curta metragem "Quinto Andar" onde atua como roteirista, diretor e compositor da trilha sonora.

Confira entrevista exclusiva de Ricardo Mansur especialmente para o Cine Mosquito.

Cine Mosquito -  Na tua percepção o que leva uma pessoa a se apaixonar por cinema? 
Ricardo Mansur – Depende da pessoa. Algumas se apaixonam pelo glamour. Outras pelos atores e atrizes. Outras pela hipnose que o cinema pode provocar ao "contar" uma história. Eu me apaixonei pelo fato do cinema ser uma arte "sem gramática", sempre em invenção.  
CM–  Quais os filmes que fizeram a tua cabeça antes e depois de cursar a escola Darcy Ribeiro? 
R M – Como é muito complicado citar alguns e se eu for honesto vou usar umas cinquenta linhas, vou citar os últimos filmes que me fizeram a cabeça: Bang-Bang, de Andrea Tonacci, O Trovador Qerib, de Sergei Parajanov, O Cavalo de Turim, de Bella Tar e Fausto, de Sokurov. 
CM – Como é, pra você, a rotina de fazer um filme? Você tem algum “rictus” pessoal. Fale um pouco da experiência diretamente ligado ao set de filmagem. 
RM - Minha experiência é pequena porque fiz apenas um filme como roteirista e diretor, mas eu procurei meditar e me concentrar antes das filmagens. Um diretor no set necessariamente precisa saber o que fazer, mesmo que não saiba exatamente. A equipe necessita da segurança do diretor para se sentir segura.  Ao mesmo tempo o cinema que me interessa é um cinema que considera o acaso como um prêmio para o plano, logo, existe uma margem de incerteza desejável, ainda que a equipe não perceba isso, e talvez, seja bom que a equipe nem desconfie.   
Cena de "Quinto Andar", primeiro fime dirigido por Ricardo Mansur. Sua
busca por originalidade e linguagem própria fica evidente.
CM – Teu filme, QUINTO ANDAR impressiona pela unidade harmônica entre fotografia, direção, montagem e som! Esse tipo de convergência no resultado, era previsto?  Como foi lidar com todos esses profissionais ao mesmo tempo e chegar ao resultado? 
RM - No cinema a equipe é que faz o filme. O diretor propõe, mas o resultado depende muito da equipe. Buscar unidade sempre! Eu procurei cuidar das pessoas e lhes dar a atenção necessária para realizarem os seus respectivos trabalhos da melhor maneira. Bom humor e descontração é fundamental. Eu trabalho melhor quando estou alegre, ainda que esteja fazendo algo que é muito sério. 
CM – O que você acha da famosa “retomada do cinema nacional”. Na tua percepção, o cinema nacional avançou nos últimos 10 anos? 
"Quinto Andar" um filme que prima por rigor técnico e cenografia criativa.
RM - O cinema independente avançou muito. O cinema em geral avançou pouco. Temos problemas na relação com o Estado no que diz respeito a financiamento. Hoje no Brasil o Estado financia o lucro da  Globo Filmes através dos propalados editais. Isso resulta em absurdo. Eu penso que o Estado deveria regular o mercado e não financiá-lo. É insuficiente o investimento em formação e fomento ao cinema que não tem compromisso com o lucro. Portanto temos que "retomar" o assunto todos os dias. Em relação aos grandes sucessos como: Cidade de Deus, Tropa de Elite ou mesmo O Palhaço, penso que podem ser filmes bem feitos do ponto de vista "profissional", mas é um tipo de cinema que eu tenho pouquíssimo interesse.  
CM – Faça a sua lista de filmes, que você recomenda para os leitores do blog CINE MOSQUITO. 
RM - Já citei alguns na outra resposta e agora vou me permitir citar dois filmes que foram referência para a realização do Quinto Andar: La Jetté, de Chris Marker (é um curta metragem e tem no youtube) e Stalker, do Tarkovsky. 
CM – Quem é Ricardo Mansur por Ricardo Mansur? 
RM - Uma pessoa que procura não se auto-definir.